sábado, 1 de outubro de 2011

carta aberta a Vítor Pereira


© jn.pt


caro Vítor,

«acardita» que nutro simpatia por ti, apesar de não te conhecer pessoalmente. assim como «acardito» que estás na cadeira onde sempre desejaste estar, dado que também te assumes como um de nós, um indefectível dessa cor que é o nosso orgulho: o azul-e-branco. porém, nos dias que correm, o meu estado de alma não é o melhor. e vou explicar-te porquê, dado que tens contribuído para tal.

à data que te escrevo ainda me encontro em retiro espiritual zen, mormente desde o desaire de São Petersburgo. aquilo é que foi, Vítor! ou não foi... ou não deveria ter sido daquela forma... já nem sei...
o que sei é que já não recordava de me sentir com a alma tão pesada desde os 5-0 de Londres. curiosamente (ou talvez não...) em «ambos os dois jogos» tudo se precipitou depois de muitas inBenções, fora e dentro das quatro linhas: desde "fucilitações"® de alguns jogadores, até considerações técnico-tácticas que conseguem atrofiar os neurónios de muitos de nós - «catedráticos» treinadores de bancada, sempre a congeminar esquemas perfeitos e onzes ideais.

ou seja e no seguimento de três encontros que... enfim: vi-me a ressuscitar velhos fantasmas que julgava exorcizados. convenhamos, Vítor, que foram três jogos que conseguiram que todo o crédito que depositava em ti se esvaziasse. e esse crédito resume-se a algo (não) tão simples como confiança: confiança em quem tem por incumbência planificar toda uma temporada, para que tudo (mas mesmo tudo!) corra pelo melhor; confiança em que o «homem do leme» conseguirá gerir as ambições individuais de todo um plantel com objectivos colectivos e que aqueles não se deverão (nunca!) sobrepor aos últimos; confiança na crença (cega) de que vamos superar todas as adversidades (ainda estamos a tempo de inverter este rumo, certo?.

confesso que, devido a um passado (muito) recente, fiquei mal habituado e já não me recordava da última vez em que passei a receber sms' pelo facto de o nosso clube do coração passar a ser capa no pasquim da Travessa da Queimada por motivos que não passam pela conquista de (mais) um troféu.
por outro lado, também sei que esta (má) fase que estamos a atravessar faz parte do se ser portista; afinal, estivemos dezanove anos sem sabermos a que sabe conquistar um título de campeão nacional. e que, enquanto portistas, esta mesma fase negativa só o é, não só devido às (péssimas) exibições e aos (paupérrimos) resultados, mas porque, portistas que somos, cultivamos uma cultura de exigência que já não passa só pelo imediatismo de uma vitória: também queremos que a Equipa (técnica e plantel) nos ofereça "ópera".

mas aqueles fantasmas, Vítor, aqueles fantasmas... atormentam-me o meu frágil espírito, debilitado por três resultados que foram autênticos desaires.
e esses fantasmas mais não são do que: o (pres)sentir uma certa sobranceria na forma como se encaram «certos e determinados» adversários; a percepção de que algo falha na preparação dos desafios; a constatação de que não há uma voz de comando a partir do banco (antes um mar de indefinições), que se respeite e se faça respeitar; a impressão de que o discurso de honrar a camisola que os jogadores envergam - que também é a tua! - não passa; a (mais do que) evidente falta de frescura física do nosso plantel (e decorridos só quase três meses de competição oficial); a (in)compreensão por haver lacunas no plantel e em posições nucleares, capazes de decidirem jogos e oferecerem campeonatos.

bem sei que estás (a ficar) careca de saber estes juízos, estes entendimentos. mas eu tinha que os desabafar, Vítor! é que, ao (re)ler algumas das minhas palavras elogiosas para ti, no início desta época - onde nada ainda está ganho (a não ser a Supertaça Cândido de Oliveira) e muito menos perdido -, parece incrível como, passados três singelos meses, deixei de sentir um imenso orgulho na tua concepção de Futebol, a qual confesso que não entendo e/ou percebo.

mas há algo que sei, Vítor, e que te exijo (porquanto és o timoneiro da nau azul-e-branca): para o jogo de amanhã, ante a briosa Académica (do agora "nosso" Pedro Emanuel), não te peço (e ao grupo que lideras) nada mais do que a vitória. mas uma vitória categórica (que não goleada), com uma exibição convincente e em que se (pres)sinta que há Querer: acima de tudo, o querer perpetuar o bom-nome e o prestígio do nosso clube do coração.
o inverso não consta desta minha exigência, a qual é nada mais, nada menos, do que este singelo parágrafo.

para finalizar e porque sei que tens que regressar ao retiro espiritual onde também te encontras com a Equipa: encarecidamente não inBentes,  pensa simples e lembra-te que acima das tácticas há um grupo de jogadores cuja motivação se faz do sentir que todos são essenciais.

sabes que quero voltar a confiar em ti e nos teus!
sabes que desejo voltar a pensar em ti como um técnico principal capaz de honrar os pergaminhos do nosso clube e de ombrear com a responsabilidade inerente a tal cargo!
não me (nos) desiludas, Vítor!
outra vez não, ok? já basta! obrigado!

Miguel Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário

vocifera | comenta | sugere
(sendo que, num blogue de 'um portista indefectível', obviamente que esta caixa é destinada preferencialmente a 'portistas dos quatro costados'. e até é certo que o "lápis", quando existe, é azul.)