terça-feira, 8 de maio de 2012

to the one I love

© Miguel Lima (Tomo II)


«
Com a Tua Letra
de Assis Pacheco

Fala-se de Amor para falar de muitas
coisas que entretanto nos sucedem.
Para falar do tempo, para falar do mundo,
usamos o vocabulário preciso
que nos dá o Amor. Eu amo-te! Quer dizer: eu conheço melhor
as estradas que servem o meu território.
Quer dizer: eu estou mais acordado,
não me enredo nas silvas, não me enredo,
não me prendo nos cardos, não me prendo.
Quer também dizer: amar-te-ei
cada dia mais, estarei cada dia
mais acordado. Porque este amor não pára.
E para falar da Morte; da enorme
definitiva irremediável morte,
do carro tombado na valeta
sacudindo uma última vez (fragilidade)
as rodas acendedoras de caminhos
- eu lembraria que o Amor nos dá
uma forma difícil de coragem,
uma difícil, inteira possessão
de nós próprios, quando aveludada
a morte surge e nos reclama.

Porque eu amo-te!, quer dizer, eu estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o Amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.
Porque eu amo-te!, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.
»

sugestão musical:
R.E.M., «the one I love»

Sem comentários:

Enviar um comentário

vocifera | comenta | sugere
(sendo que, num blogue de 'um portista indefectível', obviamente que esta caixa é destinada preferencialmente a 'portistas dos quatro costados'. e até é certo que o "lápis", quando existe, é azul.)