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provavelmente
acordou bem cedo para ir à missa. afinal, era "dia de guarda" - que era
como antigamente se designavam os feriados religiosos.
provavelmente por ser "dia de guarda" deixou mais do que uma vela acesa, no altar lá de casa e à semelhança de muitos dos seus conterrâneos.
provavelmente e porque se fez sentir muito frio na cidade, deixou a lareira acesa para sentir o "quentinho" quando regressasse. aliás, os relatos da época referem que foi um Outono rigoroso.
provavelmente, no seu íntimo, o primeiro abalo não terá durado mais do que sete ínfimos minutos, mas foi o suficiente para testemunhar, em tão curto espaço de tempo, tão desoladora mudança: uma cidade cheia de animação e de movimento, retumbada num montão de ruínas.
provavelmente, após os primeiros abalos, terá entendido que estaria mais seguro correndo para locais descobertos, sem casas nem arruamentos por perto - para o campo se possível, ou também para a margem do rio, ou para a largueza do Terreiro do Paço Real, ou ainda para a Ribeira.
provavelmente terá tido familiares e amigos seus que, se não pereceram pelas pedras das abóbadas dos templos (repletos de fiéis), ou pelas colunas dos altares, que se abateram abruptamente sobre as pessoas desvairadas e indefesas, o foram pelas nuvens de poeira que sufocaram os poucos que ainda conseguiam fugir a tempo, ou então pelas ondas embravecidas do Rio Tejo, que avançaram sobre a Cidade e depois recuaram levando tudo atrás de si.
provavelmente ter-se-á considerado que a Divina Providência esteve contra as gentes de Portugal por motivos que não seriam «entendíveis» aos seus pecadores, daí que a «expiação dos seus pecados» só se pudesse fazer por intermédio de tamanha catástrofe natural.
provavelmente todos aqueles factos somados, por si só, não fossem suficientes para aquela última, mas contribuíram decisivamente para que, por exemplo, a cidade fumegasse por mais cinco dias seguidos.
provavelmente por ser "dia de guarda" deixou mais do que uma vela acesa, no altar lá de casa e à semelhança de muitos dos seus conterrâneos.
provavelmente e porque se fez sentir muito frio na cidade, deixou a lareira acesa para sentir o "quentinho" quando regressasse. aliás, os relatos da época referem que foi um Outono rigoroso.
provavelmente, no seu íntimo, o primeiro abalo não terá durado mais do que sete ínfimos minutos, mas foi o suficiente para testemunhar, em tão curto espaço de tempo, tão desoladora mudança: uma cidade cheia de animação e de movimento, retumbada num montão de ruínas.
provavelmente, após os primeiros abalos, terá entendido que estaria mais seguro correndo para locais descobertos, sem casas nem arruamentos por perto - para o campo se possível, ou também para a margem do rio, ou para a largueza do Terreiro do Paço Real, ou ainda para a Ribeira.
provavelmente terá tido familiares e amigos seus que, se não pereceram pelas pedras das abóbadas dos templos (repletos de fiéis), ou pelas colunas dos altares, que se abateram abruptamente sobre as pessoas desvairadas e indefesas, o foram pelas nuvens de poeira que sufocaram os poucos que ainda conseguiam fugir a tempo, ou então pelas ondas embravecidas do Rio Tejo, que avançaram sobre a Cidade e depois recuaram levando tudo atrás de si.
provavelmente ter-se-á considerado que a Divina Providência esteve contra as gentes de Portugal por motivos que não seriam «entendíveis» aos seus pecadores, daí que a «expiação dos seus pecados» só se pudesse fazer por intermédio de tamanha catástrofe natural.
provavelmente todos aqueles factos somados, por si só, não fossem suficientes para aquela última, mas contribuíram decisivamente para que, por exemplo, a cidade fumegasse por mais cinco dias seguidos.
neste dia, que todos conhecem por Dia de Todos os Santos, eu recordo-o como o dia do nosso "11 de Setembro": o da catástrofe de 1755.
faz hoje duzentos e cinquenta e sete anos que aconteceu aquele
que ficou (tristemente) célebre por ser o primeiro desastre natural da
Idade Moderna.
é que, seguido ao terramoto, há relatos de ter acontecido um tsunami.
convém salientar o seguinte, para se compreender a dimensão daquela tragédia:
é que, seguido ao terramoto, há relatos de ter acontecido um tsunami.
convém salientar o seguinte, para se compreender a dimensão daquela tragédia:
1) o sismo teve o epicentro no Oceano Atlântico, a Oeste do Estreito de Gibraltar, e terá atingido o grau 8 na escala de Richter;
2) as ondas de choque do terramoto forma sentidas em França e no Norte de África e há relatos de um tsunami na costa da Finlândia;
3) para além da cidade de Lisboa, também toda a costa algarvia sofreu com aqueles fenómenos naturais;
4) Lisboa albergava, à época, perto de duzentas e cinquenta mil almas; pereceram entre dez a vinte mil, que não só em Lisboa;
5) a catástrofe terá feito desaparecer e/ou terá danificado severamente, cerca de 32 igrejas, 60 capelas, 31 mosteiros, 15 conventos, 53 palácios e a Biblioteca e o Arquivo reais.
de referir que a família real escapou ilesa à catástrofe.
o rei D. José I e a sua Corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma missa, ao amanhecer, encontrando-se em Santa Maria de Belém na altura do terramoto. a ausência do Rei, na Capital, deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade.
depois da catástrofe, D. José I ganhou uma fobia a recintos fechados e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda em Lisboa.
o rei D. José I e a sua Corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma missa, ao amanhecer, encontrando-se em Santa Maria de Belém na altura do terramoto. a ausência do Rei, na Capital, deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade.
depois da catástrofe, D. José I ganhou uma fobia a recintos fechados e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda em Lisboa.
por
último, para quem quiser explorar um pouco mais este fenómeno natural e
não se queira basear «apenas e só» no "saber" enciclopédico (mesmo que
útil, porque prático) da Wikipedia, deixo à saciedade três documentos interessantes:
i) uma selecção de textos sobre o terramoto de 1755, da responsabilidade Mário Cachão [Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa], em 2009;
ii) um ensaio de Zulmira Santos [Faculdade de Letras da Universidade do Porto] que a aborda a hipótese (plausível) daqueles fenómenos naturais como apologia da religião cristã, na época e a partir de um poema de Teodoro de Almeida;
iii) um ensaio de Maria Luísa Borralho sobre a figura de Teodoro de Almeida.
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(sendo que, num blogue de 'um portista indefectível', obviamente que esta caixa é destinada preferencialmente a 'portistas dos quatro costados'. e até é certo que o "lápis", quando existe, é azul.)