quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

ode ao energúmeno que há em nós

© Google


eu não me considero o melhor condutor do mundo, nem para lá caminho.
talvez porque só esteja encartado desde Dezembro de 1999. talvez porque conduza com regularidade só de há dois anos a esta parte. talvez porque tenha um meio de locomoção adequado à minha disponibilidade financeira, o qual, não sendo um chaço, não é propriamente uma bomba. talvez porque prefira a condução defensiva à agressividade com um volante à frente. talvez pelo somatório de todas estas condicionantes, quem sabe...
serve este intróito para apresentar o que aqui nos traz: desabafar um dos meus maiores sustos na estrada, à data.

na rotina diária de deslocação para o meu posto de trabalho utilizo uma das SCUT's do Grande Porto - uma via que me possibilita atravessar três concelhos em menos de quinze minutos e a uma velocidade média de cento e vinte quilómetros/hora. lá está o primeiro aspecto: sei que há momentos em que ultrapasso o limite de velocidade imposto por Lei.
normalmente utilizo a via mais à direita, mas há situações em que a minha rota é feita na faixa central, tendo em conta os múltiplos nós de acesso à via principal que utilizo e a moda/(péssimo) hábito de, quem nela pretende entrar, não respeitar prioridades. até houve quem já me mostrasse o dedo do meio só porque mantive a constância da minha velocidade e não tinha como me desviar... lá está o segundo aspecto: sei que conscientemente desrespeito o Código da Estrada na forma como utilizo as vias rápidas.

na manhã deste dia cinzento, aquelas rotinas não se alteraram - pelo menos até pretender entrar na dita SCUT. estava eu, sossegadito da minha vida, ainda com uma ou outra remela no olho, quando me apercebo de um energúmeno literalmente colado na traseira do meu bólide - desse eu um traque e ele certamente sentiria o cheiro...
tentava, por tudo, ultrapassar-me. azar nítido, pois, para além de estar numa faixa de aceleração, tinha um veículo à minha frente, numa marcha mais lenta do que o desejado. disso lhe dei conta, através do espelho retrovisor, assinalando o veículo que liderava o cortejo e indicando que ele deveria ter calma na sua condução e consigo também. lá está o terceiro aspecto: deveria ter ignorado o sujeito e permanecido "na minha". mas não o fiz, o que desde já me arrependo...

chegados à via principal, dirijo-me para a faixa central, como habitual e sempre a sinalizar a minha marcha com o pisca-pisca. lá está o quarto aspecto: sei que nem todos gostam de utilizar os piscas, mas eu prefiro fazê-lo a ter dissabores.
o indivíduo persistia em ultrapassar-me mas não conseguia, dado que conduzia um veículo comercial e transportava mais dois passageiros no banco da frente (filha e esposa). lá está o quinto aspecto: comigo, os miúdos vão sempre atrás.

abreviando um dos meus piores dois minutos que já tive, na estrada, nos últimos tempos:
o energúmeno conseguiu colar-se novamente na traseira do meu carro e, insatisfeito com a sua vida e/ou por razões que «não me assistem», ficou lado-a-lado comigo e (in)tentou atirar-me para a berma da estrada!! estava completamente doido e/ou possuído!!
felizmente que não houve danos pessoais e/ou materiais, apesar do (enorme) susto.


sinceramente não compreendo estas atitudes que, muitos de nós, revelamos na estrada e com uma máquina nas mãos. é algo que me ultrapassa, pelo que não consigo respeitar quem o pratica. o que sei é que, refeito daquele momento e sempre a rolar, apetecia-me descer ao seu nível e insultá-lo "de meia-noite" de forma bem audível. também desejei estar ao volante de um monster truck e "passá-lo a ferro".
mas, como disse a minha esposa - que transportava para (mais) uma consulta de obstetrícia e passado o susto que apanhou(ámos) -, a nossa Educação e o nosso respeito são muito superiores à barbaridade do tipinho em causa, pelo que me concentrei em chegarmos sãos e salvos ao destino.

assim sendo e se me estás a ler, pazinho:
Feliz Natal e um próspero Ano Novo, para ti e para os teus!
e que consigas sobreviver aos traumas que te perseguem, por forma a acompanhares o crescimento da tua filha que, pareceu-me, estava a chorar. e não era de felicidade...

2 comentários:

  1. Para quem já viveu noutros países mais civilizados é das coisas em que mais se nota a diferença para Portugal. Aqui qualquer carroça é uma grande máquina e qualquer maluco é um Ayrton Senna. Já para nem falar no (des)respeito para com os peões.

    Se bem que no caso que apresentas acho que foi óbvio que o que aconteceu foi outra coisa tão portuguesa:
    ninguém gosta de ser chamado à atenção e corrigido nem que esteja prestes a bater com o focinho contra uma parede. Preferem bater e dizerem que foi de propósito e que "eu é que sei".

    Ou então interpretou mal o gesto que terás feito e pensou que em vez de o estares a avisar estarias a insultar.

    Seja como for só te digo uma coisa, se fosse comigo resolvia a coisa de uma forma muito simples. Pegava na carteira e ponha-a de fora da janela com um "cartãozinho" que eu lá tenho (não vou pormenorizar pois são coisas da minha vida privada/profissional) e aí aposto que não só abrandava a marcha como se calhar ainda voltava a pôr o carro dele ao lado do meu para pedir "imensas desculpas".

    E isto é uma coisa que podes também fazer. Alguns amigos meus dizem já o ter feito e com resultados engraçados. Mostras um cartão qualquer (de preferência branco com um uma risca vermelha e uma verde num canto) que com a velocidade e a distância as pessoas não percebem e ficam na duvida se seria um agente de uma qualquer força policial e aí... ou abrandam e passam a conduzir como velhinhas sob o efeito de tranquilizantes ou aceleram ainda mais a ver se fogem a tempo de não lhe conseguirem tirar a matricula.

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  2. @ Nelson

    antes de tudo e muito sinceramente, sinto falta do Avivar. portanto, vê lá a tua vida e trata de o reactivar e/ou considerar a inauguração de um seu sucedâneo ;)

    sobre o epifenómeno desta manhã:
    sobretudo vou ter em atenção a minha paciência e a minha calma.
    mas, não há dúvidas sobre isso, a tua sugestão, para além de interessante, é bastante pertinente. e dado que trabalho num organismo público, sei onde poderei encontrar um cartãozito desses :D

    forte abr@ço
    Miguel

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(sendo que, num blogue de 'um portista indefectível', obviamente que esta caixa é destinada preferencialmente a 'portistas dos quatro costados'. e até é certo que o "lápis", quando existe, é azul.)

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